segunda-feira, 25 de abril de 2011

O género Serapias

O género Serapias é facilmente distinguido das outras orquídeas por uma característica única - o labelo em forma de língua. Daí serem popularmente chamadas de erva-língua.

Os labelos das Serapias - como acontece com as Epipactis e Cephalanthera - são distintamente divididos em duas partes, separadas por uma zona mais apertada. A parte interior é denominada hipoquilo e a exterior epiquilo.

Existem 5 espécies de ervas-língua em Portugal: perez-chiscanoi, cordigera, strictiflora, lingua e parviflora. Estas espécies de Serapias distinguem-se principalmente pela cor e forma do labelo, e pelo número de calosidades presentes no hipoquilo.


Adaptado de Flora Iberica 

A presença de apenas uma calosidade na base do hipoquilo distingue as espécies S. lingua e S. strictiflora das outras 3 espécies.


A S. lingua tem um epiquilo glabro (sem pilosidades), com mais de 5 mm de largura, e é encontrada por todo o País em espaços abertos.


S. lingua, Cabeço da Vila, Loulé, Junho 2007


S. língua: a única calosidade é claramente visível


A S. strictiflora tem um epiquilo piloso, até 4,5 mm de largura, e é encontrada apenas no centro e sul de Portugal em espaços abertos e em diversos tipos de solos, por vezes em grupos homogéneos.
S. strictiflora: apenas uma calosidade e labelo com menos de 5 mm de largura


S. strictiflora, Alvito, Abril 2011


Grupo de S. strictiflora, Alvito, Abril 2011

Com 2 calosidades na base do hipoquilo, existem as perez-chiscanoi, cordigera, e parviflora.
 
A S. parviflora tem o epiquilo com largura até 6 mm e comprimento até 12.7 mm, enquanto as outras duas espécies - cordigera e perez-chiscanoi - têm epiquilos mais largos que 8 mm e mais compridos que 13 mm.


  O labelo de S. parviflora tem 2 calosidades, claramente visíveis na fotografia


S. parviflora, Serra de Montejunto, Maio de 2007


Grupo de duas S. parviflora , Serra de Montejunto, Maio de 2007


S. parviflora, Porto Salvo, Maio 2007


A S. perez-chiscanoi is uma espécie mais rara, que se julgava restringida a pequenas áreas ao Sul do Tejo, em zonas húmidas e habitats abertos, mas que se tem vindo a encontrar por todo o País. É a única que tem o labelo esverdeado e com o hipoquilo mais largo que o epiquilo.


S. perez-chiscanoi, Alvito, Abril 2011


Grupo de 2 S. perez-chiscanoi, Alvito, Abril 2011


A S. cordigera tem um epiquilo vermelho escuro, e tão largo como o hipoquilo, as bracteas mais curtas do que as flores, e está disseminada por todo o País.


S. cordigera, Alvito, Abril 2011


Serapias com 2 calosidades - 1 cordigera, 2 perez-chiscanoi, e com uma calosidade 3 e 4 strictiflora


Uma S. perez-chiscanoi e um grupo de S. stictiflora, Alvito, Abril de 2011

domingo, 24 de abril de 2011

Mais orquídeas da Serra de Montejunto

A lista que publiquei em Abril de 2009, relativa ao número de espécies de orquídeas que já lá tinha encontrado, acabou de ser aumentada.

Numa deslocação em 10 de Abril de 2011, encontrei nada mais nada menos que 11 espécies, 1 variedade hipocromática e um híbrido !

A minha lista actualizada é a seguinte (por ordem aproximada de floração):

FEVEREIRO - MARÇO
- Barlia robertiana

MARÇO - ABRIL
- Orchis anthopophora
- Orchis mascula
- Orchis italica
- Orchis italica hipocromática
- Orchis x bivonae (O. anthopophora x O. italica)
- Orchis champagneuxii
- Serapias parviflora
- Ophrys lutea
- Ophrys fusca
- Cephalantera longifolia
- Anacamptis pyramidalis


MAIO
- Dactylorriza insularis

As grandes novidades foram a Ophrys picta e a Orchis champagneuxii, que sinceramente não esperava encontrar. Só encontrei 2 pés da primeira e 10 pés da segunda, totalmente por acaso porque longe de caminhos, no meio da vegetação arbustiva natural, numa encosta virada a Sul.


O. champagneuxii

O. picta
 As rosas-albardeiras começam a abrir, existem alfazemas floridas por todo o lado, está um tempo fantástico para ir caminhar em Montejunto. E há orquídeas por todo o lado !


Rosa albardeira - Pæonia broteroi

sábado, 9 de abril de 2011

As orquídeas do Pinhal da Praia das Maçãs (1) - Limodorum trabutianum

O pinhal da Praia das Maçãs (chamo-lhe assim porque é a localidade mais perto que é mais conhecida, mas poderia ser Pinhal das Azenhas do Mar ou Pinhal de Janas) situa-se exactamente entre estas 3 localidades: Praia das Maçãs, Azenhas do Mar e Janas. Também já o tenho visto referir por Pinhal da Nazaré.

É um pinhal que tem vindo a ser progressivamente invadido por construções, algumas legais ou legalizadas, a maior parte das quais penso que à revelia do PDM. É um pinhal que infelizmente se encontra em desmantelamento, em resultado da construção disseminada de moradias. Nunca lá houve um incêndio de dimensão, que me lembre, mas um dia quando houver …

O pinhal situa-se sobre uma unidade geomorfológica denominada Orla Meso-Cenozóica, que se originou no tempo geológico desde os fins da era Secundária e por toda a era Terciária, ou seja, há cerca de 200 milhões de anos. 

De origem sedimentar, com depósitos arenosos arrastados pelos ventos que atingem a costa ocidental, com dunas consolidadas pela plantação de pinhais, apresenta uma superfície ondulada, embora de baixa altitude, com pequenas elevações constituídas pelas dunas.

A vegetação é composta por pinheiros bravos Pinus pinaster. Em certos locais, já começou a invasão por acácias.

Por ordem de floração, podem pelo menos ser encontradas as seguintes espécies:
Barlia robertiana
Gennaria dyphilla
Neotinea maculata
Limodorum trabutianum
Ophrys lutea
Serapias parviflora
Cephalantera longifolia
Epipactis tremolsii
 
Passadas que foram as florações das 3 primeiras espécies listadas, a que todavia voltarei, começou a floração dos Limodorum.

Eis algumas fotos tiradas no passado dia 2 de Abril de 2011.
 
Noutros anos, os Limodorum floriram noutras ocasiões, pelo que considero o seu período de floração neste local aproximadamente de 1 de Abril a 15 de Maio.

Em 8 de Abril de 2006

Em 1 de Maio de 2008